Snyderverso: Da Ascenção a Queda - Especial edição 2010

Na década de 2010, a Marvel começava a alcançar o auge de sua popularidade nos cinemas. Nessa época, a Fase 2 do seu universo cinematográfico já estava em andamento, e o sucesso parecia garantido. Diante desse cenário, a Warner Bros., detentora dos direitos da DC Comics, percebeu a necessidade de reagir. Foi então que decidiu criar seu próprio universo cinematográfico.

​A proposta era semelhante à da concorrente: lançar filmes interligados dentro de um universo compartilhado. Em 2013, foi lançado O Homem de Aço, dirigido por Zack Snyder, marcando o início do chamado DCEU (Universo Estendido da DC).

​A ideia era promissora, especialmente porque ao contrário da Marvel, a DC possuía os direitos sobre todos os seus personagens, o que lhe daria liberdade criativa para desenvolver suas histórias como quisesse. Na prática, as coisas não saíram como o estúdio esperava. Houve diversos fracassos de bilheteria, inúmeros problemas internos nos bastidores e, por fim, o encerramento completo de um universo que tinha potencial para superar até mesmo o que a concorrente havia construído.

​Mas o que de fato aconteceu? Por que o DCEU não deu certo? É o que vamos analisar nesta matéria especial!

​Zack Snyder foi escolhido para liderar o projeto do universo cinematográfico da DC e iniciou seus trabalhos com O Homem de Aço. O diretor já era conhecido por seu histórico de sucessos como Madrugada dos Mortos (2004), 300 (2006) e Watchmen (2009). Enquanto a Marvel seguia por um caminho mais leve, com tons claros e uma abordagem bem-humorada, Snyder optou por um estilo mais sério e sombrio, inspirado na fórmula que funcionou nos filmes do Batman dirigidos por Christopher Nolan.

Henry Cavill como Superman em 'O homem de aço' - Foto: Divulgação

O Homem de Aço teve uma recepção mista. Um dos principais pontos de crítica foi a representação do Superman, tradicionalmente visto como um símbolo de esperança, mas que no filme foi retratado de forma melancólica e sombria. Além disso, o roteiro apresentou problemas, como a morte do pai de Clark Kent de maneira pouco convincente, e uma batalha final extremamente destrutiva, na qual Superman e o vilão Zod devastam a cidade sem grandes preocupações com as consequências.

​Apesar dessas falhas, o público ainda demonstrava entusiasmo com o futuro do universo cinematográfico da DC. No entanto, a Marvel já havia consolidado seu universo com mais de seis filmes lançados, o que pressionou a Warner a acelerar o desenvolvimento de seu próprio universo compartilhado para competir diretamente com a rival. Foi nesse momento que os problemas começaram a se intensificar.

Batman vs Superman: A Origem da Justiça foi lançado em 2016 como uma sequência direta de O Homem de Aço. O principal objetivo do filme era expandir o universo cinematográfico da DC, introduzindo novos personagens como Batman, Mulher-Maravilha, Flash e Ciborgue. Além disso, buscava estabelecer os futuros vilões e iniciar a formação da Liga da Justiça por meio da união da chamada Trindade da DC.


Imagem: Divulgação Warner Bros.  

No entanto, a tentativa de abordar tantas camadas narrativas em um único filme acabou comprometendo o desenvolvimento da trama. O marketing também contribuiu para a recepção negativa: os trailers revelaram momentos importantes que poderiam ter sido grandes surpresas, como a aparição da Mulher-Maravilha e do vilão Apocalipse.

​As críticas se concentraram principalmente na falta de ação durante boa parte do filme, o que gerou frustração no público, especialmente porque o título prometia uma batalha épica entre os dois maiores heróis da editora. Embora o confronto entre Batman e Superman aconteça, ele ocorre apenas mais adiante na narrativa.

​A falta de fidelidade aos personagens também foi alvo de críticas por parte do público. Um dos pontos mais controversos foi a representação do Batman, que aparece matando criminosos fugindo completamente da essência do personagem. Além disso, a versão de Lex Luthor apresentada no filme gerou estranhamento, sendo considerada caricata e distante da figura clássica do vilão. Outro fator que causou polêmica foi a morte precoce do Superman, vista por muitos como uma decisão precipitada dentro da construção do universo.

​Por outro lado, a introdução da Mulher-Maravilha foi bastante elogiada. Sua presença trouxe força e carisma ao longa, e suas cenas de ação foram destacadas como alguns dos melhores momentos do filme.

​Dando sequência ao universo, a Warner lançou Esquadrão Suicida, que acabou sendo considerado um dos piores filmes da DC. A produção enfrentou duras críticas por seu roteiro confuso, edição problemática e desenvolvimento superficial dos personagens. Apesar disso, dois nomes se destacaram positivamente: Arlequina, interpretada por Margot Robbie, e Amanda Waller, vivida por Viola Davis. Ambas foram mantidas em projetos futuros devido à boa recepção do público.

​Em seguida, veio Mulher-Maravilha, que representou um respiro para o DCEU. O filme foi amplamente aclamado, especialmente por sua história de origem bem construída, cenas de ação envolventes e uma abordagem mais leve e inspiradora, contrastando com o tom sombrio predominante nos filmes anteriores. A personagem de Diana Prince conquistou o público e se consolidou como um dos pilares do universo da DC nos cinemas.

Esse universo tambem contou com o lançamento de Shazam! Que trouxe uma pegada bem leve e divertida que agradou bastante o público e aquaman que foi considerado uma obra de arte por muitos fãs.  Devido a boa recepção desses filmes todos eles ganharam uma sequência

O Início da Queda

Créditos: imagem do portal Cinepop

​Até então, os filmes do universo cinematográfico da DC apresentavam uma trajetória marcada por altos e baixos. Enquanto alguns títulos alcançavam boas bilheterias e agradavam ao público, outros eram duramente criticados, o que levou a Warner a perceber que a abordagem sombria adotada até então não estava funcionando como esperado. Diante do crescimento contínuo da Marvel, que apostava em filmes mais leves, com humor e apelo familiar, a DC decidiu seguir uma linha semelhante.

​Originalmente, Liga da Justiça seria uma trilogia que seria lançada entre os filmes solo dos personagens, num ambicioso plano de expansão do DCEU. Com a recepção mista de Batman vs Superman, a Warner já estava pressionando Snyder a deixar tanto Liga da Justiça quanto suas próximas produções, pois queria mudar o tom de seus filmes para algo mais alegre. Até que a tragédia familiar fez o diretor sair do projeto. Em meio à produção do longa, Autumn Snyder, filha do diretor, faleceu aos 20 anos. Abalado pela tragédia pessoal, Snyder se afastou do projeto, e a Warner decidiu trazer Joss Whedon, que era um dos roteiristas, para finalizar o filme.

​Conheido por dirigir Os Vingadores e Vingadores: A Era de Ultron, Whedon foi considerado, pelos fãs da DC, um dos grandes vilões desta história. Isso porque o roteirista, produtor e diretor de cinema e televisão mudou todo o filme em relação à ideia original, além de todos os problemas que aconteceram durante as refilmagens do filme após a saída de Snyder. 

 cineasta era um cara com bastante experiência em quadrinhos, não só por ter dirigido Vingadores 1 e 2, mas por já ter atuado em HQs da própria Marvel, escrevendo Surpreendentes X-Men (2004 - 2008) e Fugitivos (2007-2008). Além disso, Joss foi um dos criadores, produziu e dirigiu a série Agents Of S.H.I.E.L.D, lançada em 2013. Ou seja, ele entendia bem do assunto! Acontece que, quando foi chamado para substituir Snyder, a Warner pediu para que Whedon mudasse o tom do filme para algo mais animado e retirasse todo aquele tom sombrio e realista, mas as coisas ficaram bem ruins.

​Antes do lançamento do filme, Liga da Justiça gerou um enorme hype, o que já era de se esperar, pois era uma das adaptações mais esperadas entre os fãs. Sendo o quarto filme mais caro da história do cinema, com orçamento de 300 milhões, Liga da Justiça teve sua estreia em 17 de novembro de 2017 e arrecadou US$ 657 milhões mundialmente. Gerou críticas mistas: uns elogiaram o tom mais leve do filme e outros criticaram pelo filme ter sido "Marvelizado". Os fãs mais "hardcore" da DC consideram o filme um verdadeiro fracasso, pois acreditavam que toda a construção do Snyderverso teria sido desfeita. Foi quando começaram a cogitar que uma possível versão do diretor existia, mas que a Warner havia proibido o lançamento. O rumor, então, espalhou-se pela Internet e os fãs começaram a pedir nas redes sociais o que foi chamado de Snyder Cut, o corte de Zack Snyder. A tag ganhou força e até os atores, como Ray Fisher e Gal Gadot, intérpretes do Cyborg e da Mulher-Maravilha, apoiaram o movimento.

​O próprio Snyder vinha dando pistas de que existia uma versão sua do filme; ele chegou a mostrar sua versão "assistível" para os executivos da Warner Bros. que teriam vetado o projeto. A luz no fim do túnel veio com o lançamento do HBO Max, serviço de streaming da Warner. Os executivos da WarnerMedia concluíram que seria interessante ter um conteúdo exclusivo para uma base enorme de fãs já existente e injetaram de US$ 20 milhões a US$ 30 milhões para que o projeto fosse terminado. E apesar de a Warner Bros. não ter curtido muito essa manobra, o Snyder Cut foi anunciado em maio de 2020 e foi oficializado como material promocional da WarnerMedia. Desde seu anúncio oficial, Snyder sempre soltou informações sobre o que podíamos esperar do filme, e cada informação que ele passava gerava um hype ainda maior.

Imagem de divulgação

Liga da Justiça de Zack Snyder teve seu lançamento em 18 de março de 2021 na plataformas de streaming HBO Max e teve uma ótima recepção do público. A nova versão de Liga da Justiça contou com cenas inéditas e personagens novos, como o Caçador de Marte, Lanterna Verde, Iris West e até mesmo o próprio Darkseid. O visual de alguns personagens foi redesenhado, como o do Lobo da Estepe, deixando-o mais assustador. Jared Leto também retornou ao papel do Palhaço de Gotham. Os personagens estreantes, Flash e Cyborg, também tiveram mais destaque, já que no filme de 2017 foram totalmente mal aproveitados. Superman retornou com o aguardado traje preto, que nas HQs significa o renascimento do herói. O diretor explicou o significado do traje e, para ele, é muito mais pessoal.

​Mesmo com o sucesso do corte do Diretor, a Warner já tinha tomado sua decisão de não permanecer com o diretor. É aí que aparece um outro personagem nessa história. Dwayne “The Rock” Johnson estava bastante animado com o lançamento de seu filme Adão Negro. Ele planejava um futuro para a DC nos cinemas aproveitando o universo já estabelecido por Snyder. Ele queria que o universo girasse em torno de seu personagem e, para comprar o público, conseguiu trazer de volta Henry Cavill como Superman, que tinha sido dispensado pelo estúdio. O que ele não contava era que Adão Negro não foi bem nas bilheterias e, com isso, a Warner decidiu cancelar esse universo todo. O estúdio aproveitaria o lançamento do filme do Flash para rebootar todo o universo, já que o filme do velocista escarlate adaptaria o arco de Flashpoint.

The Flash foi um fiasco total, e considerado um fracasso pelo publico e pelo estúdio, o filme dirigido por Andy Muschietti trouxe nomes de peso como Michel Keaton no papel de Batman e o retorno de Michael Shannon como Zod, além da participação especial de George Clooney. O filme tentou implacar um grande fans service trazendo participações do Lendário Christopher Reeves, Nicolas Cage, entre outros. Mas nada disso funcionou, o filme teve uma repercussão muito negativa e selou de vez o universo criado por Zack Snyder.  

​Um Novo Início

​Com o fim do universo anunciado, muito se perguntava o que seria do futuro da DC. Foi quando a Warner aproveitou a confusão entre o diretor James Gunn com a Marvel e anunciou que ele, junto com Peter Safran, estariam à frente do novo universo. Logo foi anunciado que todo o elenco de Liga da Justiça seria substituído e a única série que seria aproveitada para o novo universo seria a do Pacificador. Depois foi anunciado que o filme do Besouro Azul também faria parte do novo universo, já que ele não fazia nenhuma ligação ao universo criado por Zack Snyder.

​DC Hoje

James Gunn, David Corenswet e Nicholas Hoult nos bastidores de Superman (2025)

​Atualmente, o novo universo de Gunn teve o filme do Superman lançado, que foi um sucesso de bilheteria e de crítica, com o filme tendo um tom totalmente diferente do universo anterior. Uma sequência foi anunciada pelo próprio diretor, porém, nas últimas semanas, a Warner anunciou que estava à venda, gerando dúvidas e incertezas sobre Gunn e o futuro da DC.

​Com essa sensação de incerteza, nós, fãs da DC, esperamos muito que o futuro da DC seja glorioso, tão glorioso quanto suas HQs e animações.


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