Resenha | Sem Amor, de Alice Oseman

Capa do livro "Sem Amor" - Fonte: Editora Rocco

As definições de amor foram atualizadas

Ao visitar a Bienal do Livro pela primeira vez, fiquei encantada. Ver tantas pessoas apaixonadas por livros, e tantos autores e editoras que eu desconhecia, foi uma grande experiência. E foi nesse dia tão incrível que comprei o livro que se tornaria o meu favorito.

Muitos conhecem a nova série da Netflix “Heartstopper”, baseada em uma série de quadrinhos da autora britânica Alice Oseman. Além de virar uma das queridinhas dos brasileiros, a série levou muitos ao “Osemanverso”, uma série de livros interconectados da autora, um deles sendo o “Sem Amor”.


Como uma fã de romance, esse nome chamou muito a minha atenção. Ao saber que o livro falaria sobre temas como assexualidade, decidi me arriscar comprando o livro físico. E agradeço todos os dias por ter feito isso.

O livro conta a história de Georgia Warr, uma jovem britânica que acabou de entrar na faculdade sem nunca ter se apaixonado por alguém. Se sentindo “para trás”, Georgia está determinada a se apaixonar por alguém, um amor como dos livros e fanfics que ela tanto adora.

Como praticamente todos os livros de Alice Oseman, a história traz personagens de diferentes sexualidades e estágios de descobrimento. Georgia tem uma melhor amiga lésbica assumida, e acaba conhecendo na faculdade um clube de Orgulho LGBTQIA+, que será essencial para Georgia entender mais sobre a vida e sobre ela mesma.

Com personagens cativantes, a autora consegue trazer temas pouco discutidos, mesmo dentro da comunidade LGBT, e questionar como a sociedade enxerga o amor e sexo. Se descobrir faz parte da jornada da adolescência para a vida adulta, e podemos acompanhar enquanto Georgia se questiona.

Além de ser um sucesso, o livro ganhou o prêmio “YA Book Prize”, de 2021, que reconhece os melhores livros voltados para jovens adultos (young adults) nos Estados Unidos. No Brasil foi publicado pela editora Rocco.

ALERTA DE SPOILERS

É impossível falar da importância desse livro para mim sem fazer spoilers. Embora eu tenha lido sabendo que a personagem é assexual, a experiência não foi estragada. Pelo contrário, fez eu me conectar com a personagem antes mesmo de abrir o livro. Como uma pessoa que se identifica como assexual, me deu muita alegria ver que existia uma história com alguém “Ace” (nome carinhoso para assexualidade) como protagonista, não só um coadjuvante ou figurante com falas (olá, Sex Education).

Primeiramente, é importante trazer a definição de assexualidade e de arromanticidade. Uma pessoa assexual sente pouca ou nenhuma atração sexual por outra pessoa. Já a pessoa arromântica sente pouca ou nenhuma atração romântica. São sexualidades separadas, mas é possível acontecerem juntas, como no caso da Georgia, que se identifica como “Aroace”. A própria autora é aroace, o que dá uma grande dimensão sobre a experiência que ela e a Georgia dividem.

Crescendo em uma sociedade que luta para pregar a liberdade sexual, se ver incapaz ou sem vontade de viver dessa forma é difícil. Por reconhecer a dificuldade de pessoas conseguirem se relacionar com quem amam, por preconceito e leis retrógradas, é fácil pessoas no guarda-chuva da assexualidade e arromanticidade se sentirem egoístas quando falam sobre como se sentem.

Embora não pareça, a invisibilidade é uma forma de opressão. O pouco que se fala sobre assexualidade normalmente está associado a seres assexuados como esponjas, ou falando sobre como foi algo inventado no Tumblr, e que essas pessoas só não encontraram o “parceiro certo”. A arromanticidade é ainda mais apagada, por ter pouca ou nenhuma representatividade.

Se pudesse, recomendaria esse livro como leitura obrigatória em escolas. Não só para apoiar uma autora incrível, mas também para mostrar para jovens como é a vivência de alguém que não sente amor romântico ou sexual, e a importância dos outros tipos de amor, especialmente as amizades.

Relacionamentos românticos podem ser incríveis, mas não são essenciais, e ninguém é quebrado por não querer ter um. O que nos torna completos é o amor próprio e estar cercado de pessoas que nos amam e nos respeitam do jeito que somos.

 Ilustração oficial da autora @aliceosemanart 

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