Joker, o musical: será que a ideia é tão ruim quanto parece?




Roteiro de Coringa 2 (Foto: Reprodução / Instagram)


Na semana passada o mundo foi pego completamente desprevenido com não apenas um, mas dois rumores bombásticos envolvendo a sequência do bilionário filme Coringa: (i) que Lady Gaga estaria em conversas avançadas para viver a Arlequina no novo filme e que (ii) a dita sequência seria um musical – não, você não leu errado, é isso mesmo.

Lady Gaga como Condessa de ''American Horror Story'' (Reprodução Entertainmen Weekly)


Bom, como já era de se esperar dos fãs nerds, que são apenas levemente protetores de suas tão amadas HQs – não culpo, eu sou também –, a internet choveu de comentários negativos já colocando o filme no calabouço da desgraça. Mas como eu tenho algumas tendências de sofredor – amo Dark Souls, por exemplo – eu irei me incumbir da tarefa de não apenas aceitar esta decisão, mas como também defender que ela pode, sim, ser um elemento interessante para o filme.

Antes de mais nada, e especialmente antes de vocês pegarem os tridentes e exigirem minha retirada da Revista Jovem Geek, eu ressaltarei que eu admito que seria uma jogada arriscada e que só funcionará se feita de forma coerente e contida.

Para iniciarmos nossa análise, precisamos, antes de tudo, compreender que dentro do gênero de musicais, há uma vasta gama de possíveis interpretações, desde as mais "hardcore" e completamente cantadas, até as mais "soft" com números musicais espaçados entre um roteiro que segue uma narrativa convencional. Como exemplos de ambos, podemos lembrar de Os Miseráveis e LaLa Land, respectivamente.

Para minha tese defensiva, se é que podemos chamar desta forma, eu adotarei como base a segunda opção, a do musical "soft", uma vez que realmente tenho grande dificuldade em conceber um filme do Coringa quase que integralmente cantado – especialmente considerando que Joaquin Phoenix não é o melhor dos vocalistas, vide sua atuação em Johnny & June.

Uma vez estabelecido que o filme não será composto apenas por canções, precisamos entender um pouco mais das origens e versões da nossa eterna Rainha do Crime, Arlequina. Criada em 1992, especialmente para a série animada do Batman – boa demais, meu deus – o interesse amoroso do Coringa se tornou tão popular que logo após sua primeira aparição, já foi adaptada para as páginas nas HQs, onde seu sucesso não parou de crescer desde então.

Como história de origem, embora existam pequenas divergências entre escritores, consagrou-se que antes de se tornar uma das vilãs mais icônicas dos quadrinhos, havia apenas a Dra. Harleen Quinzel, uma jovem psiquiatra que vai trabalhar no tranquilo Asilo Arkham.

Neste novo emprego, ela conhece o Coringa e a partir deste momento inicia-se um dos relacionamentos mais abusivos dos últimos anos. Antes de os quadrinistas estarem fartos da Arlequina em segundo plano e adotarem uma postura mais independente para a personagem, inclusive abraçando o arco da libertação da personagem – trabalhado brilhantemente em vários momentos, mas aqui ressalto a série animada da HBOMAX –, ela passou por ‘’poucas e boas’’ para ajudar seu tão amado palhaço do crime.

Arlequina em Batman: a série animada (Foto: DC Comics/ Warner Bros)




Agora, vamos ao novo filme a ser estrelado pelo Joaquin Phoenix. Embora não seja possível cravar com toda certeza qual é a versão da Arlequina que será adaptada, parece-me seguro dizer que, caso se trate do início do renascimento de ambos, haverá uma certa submissão da personagem ao ‘’Mr. J’’, com uma visão quase que utópica do seu relacionamento. Um verdadeiro conto de fadas do crime criado na cabeça da perturbada personagem, assim como foi feito por anos.

Os mais astutos já podem estar compreendendo onde eu quero chegar com tudo isto, especialmente ao ter utilizado – e de forma proposital – o termo ‘’conto de fadas’’. Mas antes de concluir meu raciocínio e apresentar o possível cenário em que se aplicaria de forma adequada um – ou alguns, números musicais – eu quero estimular sua memória para lembrá-lo de que não seria a primeira vez que veríamos música em um papel central na construção do personagem na obra de Todd Philips.

Lembrem-se de um momento crucial no primeiro filme estrelado pela dupla, no qual, após realizar seu primeiro crime e assassinar os jovens no metrô de Gotham, Arthur, completamente transtornado foge até que consegue se trancar em um isolado banheiro público. E o que acontece lá? A majestosa trilha sonora de Bathroom Dance começa a tocar e vemos diante de nossos olhos, pela primeira vez, o personagem encontrando seu lugar no mundo, se sentindo pertencente. Óbvio, eu entendo que ninguém canta na cena, mas a importância da música naquele momento me parece inquestionável.

Cena do filme Coringa (foto: Warner Bros)


E o mesmo poderá ser feito com a Arlequina. Mas lembrem-se a personagem não tem necessariamente a visão caótica e pessimista – e por vezes anarquista – do palhaço. Muito pelo contrário, inclusive. Por vezes ela imagina uma versão inexistente do seu amor, formulando dentro de sua loucura quase que um... conto de fadas. E o que é visto em quase todos os contos de fadas? Cantoria. E é exatamente neste ponto que eu queria chegar.

Imaginem uma versão da Arlequina no início de sua trajetória, completamente perturbada e ao mesmo tempo fascinada pelo personagem do Coringa. Nós telespectadores – talvez não nós fãs, mas o público geral – não conseguindo compreender de onde vem este amor e o porquê ela aceita um relacionamento tão abusivo, até que, finalmente, vemos o mundo pelos olhos da personagem e um número musical se inicia. O mundo antes escuro e sombrio, agora se transformaria em um show da Broadway. Tristeza viraria alegria. Dor viraria música. E o abuso? Se tornaria amor – bom, aos olhos da personagem, pelo menos.

Vejam, eu não estou propondo que tudo vire galhofa e o Joaquin Phoenix saia vestindo um tutu de ballet para cantar. Estou apenas propondo, assim como no primeiro filme, um momento claro de transformação da personagem carregado pela música. Mas enfim, este é penas uma visão de um nerd com tempo de sobra.

Espero que vocês tenham gostado deste breve devaneio meu e que, pelo menos por um breve momento, eu tenha trazido vocês para o lado musical da força! Espero ouvir a opinião de vocês nas nossas redes sociais e nos comentários deste texto. 

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