Crítica de Filme | Soul


Soul, o novo filme da Pixar que significa "alma" é mais um de uma longa lista de animações que não são apenas para crianças se divertirem: adultos conseguem se emocionar e ver as mensagens por trás da história. Considerado por alguns como o melhor filme do ano, Soul foi lançado no dia 26 de novembro no serviço de streaming da Disney+ e caiu nas graças do público.

De Pete Docter, também responsável por Monstros S. A e Divertida Mente, e de Kemp Powers conhecido por trabalhar na peça One Night in Miami e Star Trek: Discovery, este é o primeiro filme da Pixar assumidamente focada em um público adulto. Nele, acompanhamos a história de Joe, dublado por Jamie Foxx, que apesar de ser um professor de música aos seus quarenta e poucos anos, acredita que deixou de viver o grande sonho de sua vida: tocar jazz em seu piano profissionalmente. 

Ele está prestes a conseguir a vaga de professor em tempo integral e junto a isso, uma maior estabilidade na carreira, aumento de salário, mais benefícios. Só que finalmente surge também a oportunidade que ele tanto almejava, e depois de passar por uma audição onde foi brilhante tocando, ganha uma vaga temporária em uma banda de jazz para tocar piano. Só que no meio de toda essa empolgação, Joe acaba caindo em um buraco e morre, e sua alma vai parar no Além.

Foi bem interessante ver o Além e a caminhada que as pessoas faziam para atravessar o portal, parecia quase que uma eterna esteira e as pessoas sendo puxadas para lá. Quando pensamos que iremos vislumbrar o Pós-Vida, Joe tem um surto e desesperado, começa a correr na direção contrária: ele não quer morrer, não agora que está quase para realizar seu sonho. 

Ele acaba parando no Pré-vida, o local onde as almas ficam até estarem prontas para irem a Terra e nascerem. Joe acaba sendo confundido por um "mentor", pessoas brilhantes que morreram e que acabam passando um período de tempo ali para mostrar um pouco de suas vidas para as alminhas que ali estão e ajudar a encontrar o "propósito" delas para quando nascerem.

No meio dessa confusão, Joe conhece 22, dublada por Tina Fey. 22 é uma alma que não quer nascer, pois já está a séculos ali no Pré-Vida e acha tediante a ideia de ir para a Terra e nascer, sofrer e ter uma vida lamentável e medíocre - palavras dela. Ela diz que está bem com a sua rotina, e fica intrigada por ver alguém querendo voltar desesperadamente para a Terra. Juntos, ela e Joe mergulham em uma aventura para tentar trazê-lo de volta a vida e deixar 22 ali mesmo.

É muito bonito como as cenas se mesclam entre o Além e a vida humana, e Docter acerta em cheio ao mostrar como a cultura e a arte podem transformar o caráter de uma pessoa. Um outro ponto interessante é a forma como a personalidade humana surge, sendo designada aleatoriamente pelos conselheiros do Além - porém, cada pessoa podendo agir e sendo responsável pelos próprios atos quando estiver na Terra.

Gostei bastante da 22 por ela ser tão espontânea, engraçada, e como ela vai mudando conforme vê a vida na terra e vai as pessoas e as situações que a cercam. A trilha sonora, recheada de Jazz com Jon Batiste e um toque minimalista com Atticus Ross e Trent Reznor são outro ponto alto do filme. 

Em vários momentos, senti um certo desgosto pelo protagonista Joe, por suas atitudes imaturas e um tanto egoístas. É surpreendente como ele deixa o sonho de sua vida o consumir, ao ponto dele nunca verdadeiramente conversar com as pessoas com quem trabalha, pois só sabe falar de Jazz e não deixa espaço para mais nada. E em como ele diz que não fez nada durante toda a sua vida, sendo que claramente como professor ele foi capaz de inspirar vários alunos e mudar suas vidas. Porém, uma questão aparece: não somos todos assim? Quantos de nós não bancamos o Joe em vários momentos?

O personagem se redime quando finalmente se dá conta de que a vida não é feita apenas por riquezas e grandes conquistas, e que para ter uma boa vida não é preciso fama ou dinheiro. A mensagem é bem clara: cada dia em que acordamos é uma conquista. Devemos aproveitar cada segundo, e isso não significa desistir dos sonhos: você pode ser persistente e um dia quem sabe não chega lá? Mas não deixe a subida te consumir, porque o que conta é a sua caminhada até lá. 

O filme é emocionante. Não consegue ser como Divertidamente, e em alguns momentos parecia que faltava um algo a mais. Sim, eu sou uma pessoa extremamente sensível que chora em animações, mas dessa vez, por mais que tenha me tocado, não fez os olhos debulharem em lágrimas. Mas saí com uma grande reflexão. O que as pessoas que estão ao meu redor gostam? Como eles estão? Estamos tão preocupados com nós mesmos, tentando alimentar nossos sonhos desenfreadamente. Estamos esquecendo de viver? Esquecendo de outras pessoas?

O final fica em aberto e na nossa imaginação: como será a vida da 22? O que o Joe fará agora? Ficamos com palpites, e torcemos para que dessa vez, as coisas sejam melhores.

Postar um comentário