Crítica de Filme | O que você faria?


O filme El Método: O que Você Faria conta a história de sete executivos que, em busca de uma vaga executiva em uma grande empresa de Madrid, decidem passar por um processo seletivo um tanto quanto incomum. Lançado em setembro de 2005, e com roteiro de Marcelo Piñeyro, Jordi Galceran i Ferrer e Mateo Gil, o filme conquistou prêmios como o Goya de Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Ator Coadjuvante com Carmelo Gómez e o Female Filme Performance in a Minor Role Award, com a atriz Adriana Ozores.

Os candidatos deste processo seletivo assinam um termo de confidencialidade antes de começarem, e logo em seguida são trancados em uma sala. São inúmeros os formulários que precisam preencher, sendo até um questionamento de um dos membros a necessidade de precisarem repetir as mesmas informações a todo instante. Eles são informados de que esse processo seletivo é feito por um método diferente, onde serão os próprios candidatos que deverão se analisar e se eliminar. E aquele que optar por não cumprir alguma das tarefas impostas a eles, deve sair e desistir de continuar no processo.

De início, todos pensam se tratar de uma brincadeira, e a conversa vai fluindo a medida que conhecemos um pouco mais dos detalhes da vida de cada personagem.

Sentados em uma grande mesa, com um computador para cada um, o método de entrevistas chamado "Granholm" exige que eles estejam atentos a cada passo que dão, pois estão sendo vigiados constantemente tanto dentro da sala como por fora.


É muito interessante ver como cada personagem reage a cada etapa, quase como se estivéssemos vendo uma entrevista verdadeira acontecendo, e não apenas uma ficção. Suas reações, falas, desconfianças e debates beiram ao realismo de uma forma indescritível, incluindo as discussões sobre idade e gênero em que as duas mulheres protagonizam, principalmente quando a tarefa é a de que cada participante deve se vender para mostrar o quanto seria útil em um possível fim do mundo. Questões como a maternidade foram lançadas de forma crua, e era possível sentir a dor que uma das personagens sentiu ao ser desmerecida como potencial colega de trabalho apenas por ser mulher.

Os valores pessoais de cada um deles foi posto em jogo, incluindo relatos de coisas que fizeram anos atrás e que foi divulgado pelo computador a todos os candidatos. O limite do ético e moral foi ultrapassado inúmeras vezes, e cada palavra dita poderia voltar de novo em pauta horas depois, tudo isso para buscar eventuais contradições.

Enquanto isso, uma manifestação toma as ruas da cidade, por conta de questões políticas contra o FMI e contra medidas que prejudicam os trabalhadores. Em dado momento, um dos entrevistados decide dizer ao outro que era a favor das manifestações, mas ao se ver frente a frente com um funcionário da empresa em que estava prestando o processo seletivo, rapidamente mudou seu posicionamento e passou a questionar todas as pessoas na rua, negando o que havia acabado de dizer anteriormente.

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Outro candidato foi colocado contra a parede ao revelarem que, em uma das empresas pelas quais passou, foi líder de uma grande manifestação e denunciou certos atos ilícitos que a companhia estava fazendo. Tido como um herói, seus concorrentes o elogiaram pela coragem, mas ao serem perguntados se o contratariam, disseram que não. Em uma das justificativas é dito que, apesar das boas intenções dele em ajudar as pessoas, muitos funcionários perderam seus empregos e alguém que denuncia uma empresa, poderia denunciar outra.

Este é um filme onde o certo e o errado andam por uma linha bem tênue, e mostra um lado do ser humano que tentamos esconder. Quando estamos tentando conseguir algo, como uma vaga de trabalho, somos realmente honestos nas entrevistas em que participamos? Ou iremos dizer algo apenas para impressionar? E as empresas, até que ponto vai a investigação para conhecer um potencial candidato?

Apesar de só ter dois cenários, a sala de entrevista e o banheiro, conseguiu transmitir muitas situações, quase como um reality show da busca por um emprego. Recomendo para aqueles que gostem de discussões empresariais, que queiram analisar um pouco mais um processo seletivo, mesmo que este seja incomum e goste de discussões sobre o mercado de trabalho.

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