"A Casa da Noite" de Jo Nesbø,conhecido por seus thrillers policiais inteligentes e cheios de tensão. O livro foi fornecido e publicado pelo Grupo Editorial Record.
Sinopse: Após a morte de seus pais, o jovem Richard é enviado para viver com parentes em uma cidade pequena e estranha. Isolado e desconectado das pessoas ao seu redor, ele começa a testemunhar eventos perturbadores que desafiam a lógica e colocam em xeque a realidade. Conforme tenta entender o que está acontecendo, Richard se vê cada vez mais envolvido em uma teia de mistério, onde nada — nem ele mesmo — parece ser o que aparenta.
Resenha: Sabe quando um livro começa com aquele ar de que vai ser sombrio, provocador, cheio de camadas e intrigas, que nos deixa pensando o que é verdade e o que é mentira? — e então termina com você pensando “Nossa, era só isso?” Pois é. Foi essa a sensação ao terminar A Casa da Noite, do Jo Nesbø.
Aqui, o autor — consagrado por seus thrillers mais densos — resolve brincar de horror psicológico adolescente, mas ele parece mais animado com a ideia do que com a execução, devo dizer.
A história acompanha Richard, um garoto de 14 anos que acaba de perder os pais e é enviado para viver com parentes numa pequena cidade remota. Desde o início, sentimos que algo está fora do lugar, seja na cidade que parece estar errada de alguma forma, mas principalmente no próprio Richard, no qual vamos aprender a não confiar em sua história.
Cabines telefônicas devoram pessoas, um menino vira cigarra, uma casa abandonada guarda segredos e, claro, o narrador não é nada confiável, como podemos acompanhar ao decorrer do livro. Até aí, tudo bem né — se isso fosse feito com mais densidade e menos “pose de mistério” no qual ele não consegue seguir. Em nenhum momento senti o frio na barriga e a ansiedade do “e agora??” que senti em outros livros de thriller.
O livro tenta ser metalinguístico, tenta subverter o gênero no qual está preso, te surpreender com reviravoltas que... Bem, você já viu antes. A estrutura em três partes promete uma experiência “UAU”, mas o que entrega é mais um “ahn, tá, de novo”, sem contar que na terceira parte eu não aguentava mais ler. O livro tenta puxar seu tapete, com uma tentativa clara de criar camadas de realidade e questionar a sanidade do protagonista — e de quem está lendo —, só que sem o impacto necessário, me fazendo sentir que ele está me chamando de idiota por querer que eu acredite naquilo.
Jo Nesbø usa referências ao horror clássico, especialmente à literatura de Stephen King e Lovecraft, mas não é suficiente; Ele cria um clima denso, com florestas, casas abandonadas, telefones amaldiçoados, neblinas e chuvas torrenciais — estrategicamente posicionadas, devo dizer — , mas como utiliza a trama da história de forma arrastada e muitas vezes chata, não compensa todas as referências.
A atmosfera, que deveria ser inquietante, às vezes parece só... cansada, acabada. Os personagens são rasos, o protagonista difícil de se importar de verdade, sem nenhum mérito de falar mais sobre, ele ataca os outros por medo de se aproximar, mas é algo tratado de forma tão rasa, e convenientemente a única pessoa que suporta ele, é a única que acredita em suas histórias malucas — e devo dizer que não se importa nem um pouco com o desaparecimento de dois colegas — , e o ritmo se perde entre o que parece uma história de terror juvenil e um ensaio sobre trauma — só que nenhum dos dois se sustenta.
Agora, justiça seja feita: Jo Nesbø escreve bem, isso é inegável. O texto flui, as descrições são competentes, e ele ainda tem senso de construção. Mas aqui, o problema não é a forma — é a substância. E A Casa da Noite tem pouca.
Se você é fã do Nesbø e veio atrás de mais uma história tensa e bem amarrada como de costume, pode se decepcionar bastante. Se você esperava um terror psicológico marcante, prepare-se para um passeio morno por clichês já conhecidos e que já estamos cansados.
Talvez o livro funcione para você, ele só não funcionou para mim, e está tudo bem. Talvez funcione pra quem esteja começando no gênero, e ainda não se acostumou a certas estruturas, mas depois de ler Lovecraft, Drácula, De Bram Stoker, e It, do King... aqui, talvez, falte um bom peso.
No fim das contas, A Casa da Noite é como aquele filme que parece promissor no trailer, você fica animado para assistir, mas entrega uma experiência esquecível. Um livro que se leva a sério demais, mas entrega pouco.
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