'THOR: AMOR E TROVÃO' deveria ser o ponto de transformação do herói, mas não traz nada além do mesmo



 
Pôster de divulgação / Imagem: Marvel Studios

Thor: Amor e Trovão estreia nesta quinta-feira, dia 07/07, e os corações de milhões de fãs já estão ansiosos. Nós, da Revista Jovem Geek, assistimos o filme antes de todo mundo para trazermos para vocês críticas completas e detalhadas. ESSA RESENHA CONTÉM SPOILERS! Você foi avisado!


Para todos que me perguntavam como o filme tinha sido, eu tinha uma palavra específica para descrever e que invadiu meu pensamento durante toda sessão: Divertido. Eu me diverti bastante durante a exibição toda, Taika Waititi faz um belo trabalho na direção para tornar o filme perfeito para quem procura duas horas de diversão no cinema. No entanto, perceba que não disse que o filme é exatamente bom. Isso seria algo perigosíssimo de se afirmar, afinal Thor: Amor e Trovão não é exatamente genial e bebe da fonte - que, infelizmente, nunca seca - dos clichês da Marvel. Piadas constantes e cansativas, falta de profundidade e Chris Hemsworth se apagando diante de atores excepcionais acabam tornando outra oportunidade de uma virada de chave no estúdio (que já poderia ter acontecido desde o fim da Fase 3 do MCU) em mais do mesmo. Porém, não se deixe levar pelo meu amargor inicial, caro leitor. Existem sim coisas muito boas no filme. As atuações de Christian Bale, Natalie Portman e Tessa Thompson são excelentes, algumas cenas de luta ficaram sensacionais e os efeitos especiais - que vêm se tornando um problema para diversos filmes - são relativamente bons em algumas cenas notáveis (mas péssimos em outras).



O INÍCIO


O filme se inicia com Gorr, antes de se tornar o infame carniceiro dos deuses. Ele está rezando para seu deus, implorando para que o deserto em que vive dê algum tipo de fartura para que o homem possa se alimentar e dar o que comer à sua filha. O tempo passa e o deus não atende aos pedidos e a menina acaba morrendo. Um devastado Gorr fica deitado ao lado do túmulo da filha até que ouve um chamado. Ele levanta e vai em direção a um oásis, de onde a voz baixa está o chamando. Quando entra, se vê diante de uma abundância de frutas e água e se joga para comer e beber desesperadamente. E é aí que percebe o deus que ele tanto adorava, em sua frente. Gorr se joga aos seus pés e agradece pela comida e bebida que lhe foi oferecida. Contudo, o deus apenas ri e diz que nada daquilo é para ele e sim porque estavam comemorando a morte do antigo dono da Necroespada - futura espada de Gorr, que lhe garantirá seus poderes - e que o destino de Gorr seria igual de sua filha e ele deveria ficar agradecido por tal. Quando está quase sendo morto pelo deus, o homem se apodera da Necroespada e o mata. 

Assim é o nascimento do carniceiro dos deuses. Rápido e sem nenhum tipo de aprofundamento. Isso é um problema que tive com muitos filmes da Marvel que eventualmente se tornam esquecíveis. O desenvolvimento do vilão é apressado e ocupa apenas cinco minutos de tela, nos induzindo a pensar que “bom, esse cara ficou muito mau e é isso que você precisa saber”. Claro que não é algo que precise ocupar uma hora de tela, mas um desenvolvimento melhor talvez lhe faça se apegar mais ao personagem, nem que seja no desejo que ele morra. 


O filme segue então para Thor, que está explorando o universo com os Guardiões da Galáxia. Confesso que, ao assistir o trailer, achei que o grupo de heróis teria um destaque muito maior do que teve. Eles, tal qual a história de origem de Gorr, ocupam poucos minutos de tela e logo Thor se separa deles, quando vai ao resgate de Sif e, depois, para a Terra. Pelo tempo escasso de interação que se mostra entre o grupo e Thor, parece mais que esse arco - se é que dá para chamar assim - serviu somente para que o deus estivesse em algum lugar que não a Terra. Algo como “olha, em 30 segundos vamos resumir onde estava um dos primeiros e mais famosos heróis do MCU depois que lutou contra Thanos e ainda lida com a dor de ter perdido toda sua família e amigos próximos”. Isso tornou a relação deles muito rasa, ainda mais porque foram eles que ajudaram o deus nórdico a passar por crises e o luto constante e tal coisa não é mostrada da maneira que deveria. O vínculo entre eles se resume a piadas desnecessárias, discursos motivacionais vazios, que se tornam piadas, e lutas que poderiam ser épicas, mas também se tornam piada. 



OS PERSONAGENS (e o roteiro)


Natalie Portman como Jane Foster / Imagem: Marvel Studios

Jane Foster está com câncer em estágio final e não quer parar de trabalhar. A doutora não desiste de achar algo que possa ajudá-la a se recuperar da doença. Até que um dia, olhando livros antigos de mitologia nórdica, decide ir a Nova Asgard. Quando lá chega, em uma exibição dos pedaços restantes de Mjölnir, ela recebe um chamado do martelo, que se reintegra. Jane, então, se torna a Poderosa Thor.

 

Natalie Portman traz uma atuação sólida, mas não extraordinária. Em cenas da personagem sendo afetada pelo câncer, a atriz cresce, mas o romance com o personagem de Hemsworth não convence (mais culpa dele do que dela). Depois de tanto tempo longe um do outro, a química acaba se esvaindo e as atuações não sustentam. As cenas com Tessa Thompson, no entanto, são ótimas. Fiquei com medo do filme e suas personagens femininas principais serem reduzidas a papéis secundários sem vontade própria, à sombra de Thor e que cospem frases vazias de um suposto empoderamento feminino (que, nesse caso, não existiria). Contudo, fui surpreendida positivamente com o desenvolvimento bacana de Jane e Valquíria. Elas são personagens que passam pelas mais diversas emoções (pelo menos as que o roteiro limitado permite) durante todo o longa. São heroínas e demonstram sua força por meio de ações do mais diverso escalão: Valquíria cuida de uma nação inteira, Jane é uma cientista brilhante; ambas são incríveis no campo de batalha e salvam a pele de Thor várias vezes; elas choram amores perdidos, demonstram vulnerabilidade ao mesmo tempo que continuam sendo fortes. E reforço mais uma vez que isso não seria possível sem as boas atuações e química de Tessa e Natalie. 


Thompson como Valquíria e Portman como Jane / Imagem: Marvel Studios


Agora, gostaria de falar de duas coisas que tornam o filme, sem poder ser mais delicada, pior: o roteiro e a atuação de Hemsworth. Coloquei os dois juntos porque ambos têm uma característica em comum, são rasos. O roteiro de Waititi e Jennifer Kaytin Robinson se apoia nas incontáveis piadas que se tornaram marca registrada - e cansativa - do MCU, o que transforma cenas que seriam dramáticas e dariam alguma profundidade ao filme, num grande circo. Thor está lidando com o luto e se fechou para o mundo e como o roteiro responde a isso? Piadas e mais piadas. Antes que me acusem de ser contra a diversão, eu ri algumas vezes, só que chega uma hora que você já consegue adivinhar que um comentário muito engraçado virá em seguida e é  assim até o fim do filme. 


E se já não bastasse o roteiro, a atuação de Chris Hemsworth deixa muito a desejar, principalmente nas partes mais dramáticas e cruciais. É quase como se ele só soubesse mostrar o lado bobo do Thor (e talvez isso explique a quantidade enorme de piadas no filme). Admito que ele faz um trabalho decente nas cenas de luta, mas todos os fãs gostam de ver um outro lado de seu herói favorito e Hemsworth não consegue apresentar essa parte do Thor. A cena em que o ator mais pecou foi na de morte de Jane. Ele está perdendo mais uma pessoa importante em sua vida e Chris infelizmente não capta a seriedade do momento; mantém a mesma cara durante toda a cena. Enfim, o australiano é engolido pelos atores excelentes ao seu redor.


Bale como Gorr / Imagem: Marvel Studios


Christian Bale, por outro lado, dá um show à parte. Claro que, novamente, com um roteiro limitado é difícil operar um milagre mas Bale traz um Gorr sombrio e que nos faz entender seu ódio por deuses. Algo interessante de se pontuar é a linguagem corporal que o ator leva ao personagem; Christian Bale faz com que a mística ao redor de Gorr aumente e mesmo assim não o deixa caricato.


Uma cena bem aguardada pelos fãs era a da Cidade Onipotência - lugar onde deuses das mais diversas mitologias se reúnem para festejar. O personagem central dessa parte é Zeus, interpretado pelo vencedor  do Oscar Russell Crowe. A cena, como todo o filme, é divertida mas é difícil você realmente se importar com ela; é quase como se fosse um stand-up no meio do longa. O sotaque grego de Crowe ficou um tanto caricato e claro que todas suas falas se carregavam de piadas. Na primeira cena pós-crédito é possível entender porque foi necessária a ida de Thor até o lugar, dentro da lógica do MCU, mas mesmo assim não é o suficiente para se importar com o que aconteceu.


Russel Crowe como Zeus / Imagem: Marvel Studios



A TRILHA E AS BATALHAS


A trilha sonora é um ponto importante e que agrega ao filme. Pode ser que muitos não curtam Guns n’ Roses, mas a banda combinou bastante com o filme e não só nas cenas de luta. Tudo bem que não superou o uso de The Immigrant Song do Led Zeppelin em Ragnarok, mas o uso de Welcome To The Jungle, Sweet Child O’ Mine e Paradise City foi excepcional. 


Apesar de se tornar mais um dos filmes esquecíveis da Marvel, Amor e Trovão trouxe duas das cenas de batalha que mais gostei nos últimos longas do estúdio. Primeiramente, a luta no Reino das Sombras, totalmente em preto e branco, levou um tom de seriedade que faltou em várias partes do filme. O detalhe de que apenas se vê cor quando a luz que as armas de Thor, a Poderosa Thor e Valquíria levaram é muito bom. Quando se mostra o planeta todo, é um show de efeitos visuais que, particularmente, trouxe a fã de quadrinhos em mim de volta à vida.



PÓS-CRÉDITOS


Por fim, é bom lembrar que o filme tem duas cenas pós-créditos. Uma é de Zeus conversando com Hércules, explorando a possibilidade dele ser o próximo vilão de Thor. A segunda é uma de Jane chegando a Valhalla, sendo recebida por Heimdall.


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