Conheça Bacurau, o grande vencedor do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro 2020


“Bacurau, 17 Km, se for, vá na paz”, com essa inscrição em uma placa de estrada que somos apresentados ao longa-metragem nacional que mais repercutiu por 2019 e ainda continua aparecendo em várias listas internacionais como um dos melhores filmes de 2020.

Bacurau, já premiado no Festival de Cannes de 2019, acaba de conquistar a premiação audiovisual mais importante do Brasil levando para casa o título de Melhor Filme no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro de 2020. Para aqueles que ainda não tiveram a chance de assistir, deve se perguntar qual a história contada por essa narrativa cinematográfica. A resposta é simples: um pequeno povo residente de uma cidade no sertão nordestino precisa lidar com a chegada de um grupo estrangeiro que ameaça a existência deles. Mas existem interpretações mais profundas que podem ser extraídas, como: trata-se de um filme regional que transmite com suas peculiaridades sentimentos e motivações universais, pois coloca temas intrínsecos à vivência humana como a resistência e a importância da memória cultural de um povo. Com uma visão mais concreta ou mais abstrata, é fato que o filme usa a mistura de gêneros e a múltipla abordagem de questões sociais para contar uma narrativa que é no mínimo espetacular. Definitivamente, Bacurau é um filme que merece o hype que o acompanha.

Quando os moradores de Bacurau descobrem que sua cidade simplesmente não consta mais nos mapas digitais do sertão brasileiro, as desconfianças sobre o que poderia estar acontecendo começam a correr entre os moradores. Quando dois forasteiros (Karine Teles e Antonio Saboia) chegam a cidade, todas as estruturas do filme se adaptam para entregar uma narrativa mais tensa que prende atenção do espectador. Em uma união de faroeste e suspense, a arte ganha vida através da sutileza que permeia um ambiente marcado pela verossimilhança com a realidade nordestina (sendo, inclusive, a contribuição da população local para contracenar com os atores do elenco um elemento desse conceito), o que torna todo esse desenvolvimento mais rico e mais intrigante a medida em que o clímax vai se aproximando.


Kléber Mendonça Filho e Juliano Dornelles nos levam a adentrar e a conhecer aquele mini-universo de Bacurau, onde existe uma complexidade nas mais simples relações pela força existente nas personagens que são entregues na narrativa. Em uma espécie de dinâmica que entrega do específico para o universal, Doutora Domingas (Sônia Braga), Lunga (Silvero Pereira), Teresa (Barbara Cohen), entre outros são representações do brasileiro e expressam de maneiras distintas a resistência para defender seu legado cultural de uma invasão estrangeira predatória (no caso, não meramente no sentido figurativo). Do extenso passado do Cangaço até as considerações pós-modernas do que é ser nacionalista e até onde vamos para manter nossas memórias, tudo é referenciado em Bacurau, o que engrandece o filme por ser tão brasileiro sendo narrado de uma maneira que foge do que é mainstream dentro do cenário audiovisual nacional.

O filme atende todos os gostos. Se você precisa entender colocações de discriminação e dominação estrangeira sobre a cultura e o povo brasileiro, você encontra. Além disso, desprende-se e desmitifica-se uma importante face do nordeste, e também é possível entender a corrupção política generalizada, reafirmar a importância da educação e da memória e tudo isso sob a lente de uma ambição que flerta com a ficção e nos surpreende até com atos tarantinescos que não querem suavizar a reação de quem assiste. Visceral, poético e singular, Bacurau consegue se sair satisfatoriamente naquilo que propõe.

Sem mais delongas (e sem mais spoilers), Bacurau carrega com maestria seu selo de “filmão” e não é um filme que só agrada a crítica e isso se nota por sua popularidade. Ver um filme brasileiro com tanta força dentro e fora do país é de surpreender devido a dificuldade que o setor da cultura enfrenta nos últimos anos. Mas, como os habitantes de Bacurau, nós resistimos e continuamos produzindo, pois a nossa cultura nas telas cinematográficas é uma memória que precisa ser registrada para enriquecer a arte e subverter cada vez mais os monopólios com a influência latina que está se tornando cada vez mais forte.

Bacurau é a escolha certa para sua próxima sessão e está disponível pela Telecine, portanto confira o quanto antes! E se já teve sua experiência com o longa, deixem nos comentários suas impressões dele.

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