Resenha: VHS - Verdadeiras Histórias de Sangue



"A grandiosidade da vida está na reunião de episódios insólitos, belos e dantescos que não podem ser apagados"

O terror nacional tem ganhado cada vez mais espaço em diversas mídias e não poderia ser diferente na literatura, que conta com um representante de gelar corações: Cesar Bravo. O autor, que está lançando seu segundo livro pela editora Darkside Books, vem com tudo, prometendo e entregando um banho de sangue pelas páginas dessa obra que conta com um projeto gráfico SEN-SA-CI-O-NAL.

Cesar Bravo
Em VHS - Verdadeiras Histórias de Sangue, somos apresentados à fictícia cidade de Três Rios, localizada a noroeste de São Paulo, iniciando sua narrativa no ano de 1985 e transcorrendo até 1995.
O local é o elo entre uma série de histórias que revelam o que há de mais obscuro por trás do ser humano e de forças que não compreendemos. O ponto de partida é a videolocadora Firestar, cujos proprietários tiveram uma brilhante ideia: conceder descontos em aluguel de fitas por gravações amadoras de seus clientes. Aparentemente, nada demais, porém a sacada foi revender tais gravações para pessoas que pagariam um bom valor em dinheiro para observar a vida alheia. O que não esperavam é o que poderiam encontrar em tais filmagens e, a partir dessa premissa, somos apresentados ao universo de terror em que é possível até mesmo ver o diabo coabitando com seres humanos. A premissa inicial, envolvendo uma locadora, dialoga totalmente com a proposta gráfica do livro, que reproduz com fidelidade um modelo antigo de fita VHS de meados da década de 80. Ao total, a obra conta com 18 histórias em formato de contos, são elas:

1. Firestar videolocadora
2. Chuva forte
3. Quando as mariposas voam
4. Branco como algodão
5. Bicho papão (em minha opinião, o melhor de todos)
6. Três que capturaram o diabo
7. Intersecções
8. Jezebel
9. Torniquete
10. Último centavo da senhora Shin
11. Lugar algum
12. Feitiço em você
13. Museu das Sombras
14. Peso do enforcado
15. Talheres de ossos do rei invertebrado
16. Whey Protein
17. Zona de abate - Matadouro 7
18. HSBF6-X


Bravo é um autor que bebe muito da fonte de Stephen King, tal constatação pode ser facilmente percebida no estilo em sua narrativa, além de referências ao autor norte-americano durante a obra. O próprio conto Jezebel possui uma certa ambientação e história que relembram o clássico O Cemitério. Algo que ambos autores conseguem dominar com maestria é a capacidade em incitar uma autorreflexão: os verdadeiros monstros são aqueles que habitam o imaginário humano e estão nas histórias que contamos para assustar as crianças ou são aqueles que convivemos diariamente e que muitas vezes ocupam uma posição social de destaque? Um conto que reforça muito esse pensamento é Bicho papão, em que ficamos sem saber quem é a verdadeira vítima em um caso de violência extrema, capaz de chocar pessoas com imaginação fértil.

Ao trabalhar contos, o autor consegue diversificar seu narrador entre primeira e terceira pessoa, o que provoca diferentes sensações no leitor, em alguns casos, conseguimos sentir exatamente o que o personagem passa e em outros temos a capacidade de nos sentirmos expectadores dos fatos mostrados. A escolha do gênero textual já se mostrou muito eficaz com o lançamento anterior do autor: Ultra Carnem. O que faz as expectativas para ler um possível romance de Cesar Bravo ficarem cada vez maiores, mas será que haverá o "risco" uma vez que os contos têm entregado narrativas curtas, porém cativantes para os leitores? Fica a "provocação".

Uma escolha que me chamou a atenção foi a falta de encerramento para o conto inicial, que serve como catalisador para saber mais sobre o universo apresentado; acredito que Bravo ainda nos apresente surpresas, para ter deixado um história tão interessante em aberto. Temos também o retorno de alguém já visto em sua obra anterior: "O diabo", um personagem deveras curioso, que permaneceu com traços humanos intrigantes nessa figura polêmica, como uma forte emoção de raiva e a necessidade de se provar para três moradores do interior paulista.

O mistério não abandona as páginas do livro e muitas vezes encontramos easter eggs de histórias já lidas (e que ainda iremos ler), essas conexões acabam intrigando e fazendo o leitor ficar curioso para entender melhor o que ocorre numa cidade que parece ser um berço para todo tipo de coisa maldita. Iniciando cada história com o trecho de uma música, inclusive o autor compilou todas em uma playlist do Spotify, temos diferentes subgêneros do terror sendo explorados com esmero, além de um toque caracteristicamente brasileiro que, no conjunto da obra, satisfaz as necessidades sombrias que só um leitor de terror possui.

2 comentários :

  1. Nao esquecer TB que temos muito dos contos de hp lovercraft em seus contos. Excelente resenha e mais um livro intenso de Cesar Bravo .

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  2. Não só Lovecraft, até mesmo Clive Barker.

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