A valorização do cinema nacional (ou a falta dela)



Quantas vezes você foi ao cinema em 2019? E quantas dessas vezes, você foi ver um filme brasileiro? Em 2019, nós tivemos 327 produções nacionais. O país levou, ano passado, 172 milhões de pessoas aos cinemas, o que foi um aumento em relação ao ano anterior, mas apenas 22 milhões foram ver filmes nacionais, representando uma queda de 300 mil espectadores em relação a 2018. Sinceramente, de nacional, eu só assisti a Minha Mãe É Uma Peça 3.

Eu poderia dizer que isso se dá, principalmente, porque ir ao cinema é caro. O preço mais barato que consigo no cinema mais perto da minha casa, na zona sul do Rio de Janeiro, é R$ 14,50, na meia entrada na quarta-feira. Inúmeras cidades no país não tem uma sala de cinema sequer, inclusive membros da nossa equipe precisam ir a cidades vizinhas. Isso tanto é um fato preocupante que foi tema da redação do ENEM 2019. A democratização do cinema no Brasil é tão fraca quanto a valorização nacional do mesmo. Mas, ainda assim, o número de espectadores para filmes estrangeiros cresceu em 12,5 milhões desde 2018. O que nos leva a concluir que, embora ir ao cinema seja caro, a rejeição aos filmes brasileiros é maior.

Além disso, a ANCINE (Agência Nacional de Cinema), órgão responsável por regulamentar, financiar e administrar a indústria cinematográfica brasileira, diretamente ligada ao antigo Ministério da Cultura, virou tema de discussão no ano passado quando levantou-se a ideia de extingui-la. A eventual extinção da ANCINE representaria uma queda abismal de produções brasileiras.

Porém, o cinema movimenta a economia, o que é bom pra todo mundo porque gera emprego, e empregos geram salários, e com dinheiro as pessoas podem sobreviver. Então, investir no cinema nacional é valorizá-lo, é valorizar nossa cultura e expandi-la. É importante. E digo sim, em níveis governamentais e de iniciativa privada (bato palmas para a Netflix Brasil e suas várias séries incríveis!), mas principalmente em níveis pessoais. Podemos escolher ver um filme brasileiro invés de um estrangeiro no cinema, e não significará que não gostamos da Marvel ou da Warner, mas que entendemos a importância de apoiar nossa própria indústria cinematográfica, pois é isso que a faz crescer e melhorar, e no fundo é isso que queremos, certo? Imagina uma Hollywood brasileira!

O cinema nacional não é ruim, o Brasil não produz só comédias sem graça, os filmes brasileiros não são feitos só pra matar tempo na TV, deixemos que todas as nossas indicações ao Oscar sirvam de prova: Desde sua primeira menção no Oscar de 1945 - com a indicação do filme Brasil que na verdade é completamente estadunidense -, o país recebeu indicações a Melhor Filme Estrangeiro com O Pagador de Promessas, O Quatrilho, O Que É Isto, Companheiro?; a melhor curta metragem em live-action com Uma História de Futebol; a melhor filme de animação com O Menino E O Mundo; a Melhor Documentário com Raoni, Lixo Extraordinário e O Sal da Terra; além de indicações a melhor atriz, melhor diretor, melhor fotografia, melhor edição e melhor roteiro adaptado. E a mais recente: Democracia em Vertigem, de Petra Costa, indicado a Melhor Documentário.

Portanto, se batemos palmas para filmes nossos no Oscar, podemos bater palma para muitos mais aqui mesmo. Deixemos que a nossa indicação deste ano, no primeiro Oscar em que um filme em não-língua inglesa levou a estatueta de Melhor Filme (Parasita, da Coreia do Sul) sirva de marco histórico para nós também. Se apoiarmos e valorizarmos mais, nacionalmente, os filmes brasileiros, talvez no Oscar 2021 uma das estatuetas seja nossa.



Todos os dados dessa matéria foram retirados de:
G1, Canal Luly de Verdade e Uol

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