Cena da série Game of Thrones com Emilia Clarke (Daenerys Targaryen). HBO/Divulgação
O ano era 2011 e um dos maiores fenômenos da TV: Game of Thrones começava a ser exibido pela HBO. Baseada na série de livros de George R. R. Martin, não dá para dizer que a série já não era esperada por aqueles que já conheciam os livros, mas logo virou algo muito maior: um espetáculo televisivo que dominou conversas, prêmios e, claro, corações.
Embora não tenha começado como o hit que viria a ser, acredite se quiser, em 2011 não era incomum encontrar críticas mistas sobre o seriado. Não demorou muito para que a opinião geral mudasse. Temporada após temporada, Game of Thrones foi conquistando até os mais céticos e fez dos domingos um evento coletivo e mundial.
Ainda que o final tenha sido decepcionante, para dizer o mínimo, é difícil não lembrar com carinho dessa época. Em um período de muita polarização política e consumo de conteúdo cada vez mais nichado, nossa fantasia medieval representava algo que quase todos tinham comum. Era, e ainda é, uma prova de que mesmo na era da internet grandes fenômenos coletivos ainda podem existir.
Enfim, algo tão forte que mudou não apenas a maneira como vemos televisão, mas também como esse conteúdo é entregue para nós.
Mas, que série é essa e o que ela tem de tão especial?
Cena da série Game of Thrones com Sean Bean (Ned Stark). HBO/Divulgação
Primeiro, vamos a uma recapitulação: se você não viveu essa época, ou decidiu não participar desse movimento, Game of Thrones é uma série da HBO que mistura fantasia com um drama histórico/ medieval. Com oito temporadas, ela foi ao ar de 2011 a 2019, tendo o total de 73 episódios.
Ao contrário do que muita gente pode pensar, apesar da série ter sido uma grande aposta, ela não foi um fenômeno logo no seu primeiro episódio. Sua história de sucesso foi gradual até certo ponto, o seriado chamou à atenção primeiro dos que já conheciam os livros e só depois conseguiu furar essa bolha.
Durante a sua temporada de estreia, houve questionamentos sobre a trama complexa e, inclusive, críticas quanto às suas escolhas criativas, como a morte de um personagem importante no final do seu primeiro ano.
No entanto, mesmo com essas opiniões, o número de fãs foi subindo ano a ano até ser praticamente impossível não saber o que era Game of Thrones. Você ia para a internet, a série estava lá na forma de memes, teorias ou fanfics, não era apenas um fenômeno televisivo, mas uma experiência participativa.
Por quê? Talvez você esteja se questionando…
Cena da série Game of Thrones. HBO/Divulgação
Não existe um motivo único, mas a união de muitos elementos:
Um elenco talentoso e muito querido;
Uma história complexa, cheia de personagens interessantes, identificáveis até certo ponto, e, ao mesmo tempo, super questionáveis;
Orçamentos enormes e efeitos especiais de qualidade que faziam parecer que estávamos assistindo a um filme para cinema;
E, claro, o fato de que absolutamente tudo poderia acontecer: ninguém, absolutamente ninguém, estava seguro.
Além disso, dando continuidade ao que a HBO já havia feito com The Sopranos e Six Feet Under, a série não temia mostrar os lados mais feios e sem decoro da humanidade, de cenas de sexo à violência explícita, tudo era explorado de maneira coerente com a narrativa. Algo que muitos canais evitavam exibir, com medo de que a audiência rejeitasse.
Essa ousadia conquistou o público, provando que tudo isso pode, sim, fazer parte da TV, desde que o enredo seja coerente e pensado para o seu público-alvo.
Com ela era recorde atrás de recorde
Cena do episódio A Batalha dos Bastardos da série Game of Thrones com Kit Harrigton (Jon Snow). HBO/Divulgação
De indicações para prêmios a números de audiência, Game of Thrones se destacou em praticamente todos os aspectos. Para vocês terem uma ideia, o último episódio da série bateu o recorde de audiência da HBO com 19,3 milhões de exibições (via Rolling Stone).
O seriado recebeu mais de 100 indicações ao Emmy e sempre chamava atenção por orçamentos altíssimos. Segundo dados do Business Insider, a última temporada foi uma das mais caras de todos os tempos, custando aproximadamente US$ 15 milhões por episódio. A HBO não tratou a série, como uma simples produção para a TV, mas como um investimento que mudaria tanto o consumo quanto a produção de televisão.
Um bom exemplo é o episódio A Batalha dos Bastardos, da sexta temporada: a sequência levou 25 dias para ser gravada, envolveu 500 figurantes e uma equipe de mais de 600 pessoas (via Omelete). Números grandiosos que a TV não costumava ter, e que hoje se tornaram possíveis. Dragões e lobos em CGI, que antes eram sinônimo de efeitos de baixa qualidade (como os de Teen Wolf), passaram a ter o mesmo nível que teriam em uma produção para o cinema.
A HBO investiu pesado em tecnologias de CGI, no elenco e na história que queria contar, e o público respondeu com uma dedicação e um frenesi nunca antes vistos. Afinal, não se tratava apenas de assistir a uma série, mas de fazer parte de uma comunidade.
Game of Thrones mudou o jogo
Cena da série Game of Thrones com Kit Harrington (Jon Snow) e Emilia Clarke (Daenerys Targaryen). HBO/Divulgação
E não para por aí, de episódios longos e exibidos semanalmente, o seriado nadava contra a corrente em uma época em que já começava a se popularizar conteúdos mais curtos. Em meio ao auge das icônicas maratonas da Netflix, uma série exibida apenas uma vez por semana, gerar tanto burburinho não era pouca coisa.
Se hoje vemos tantas séries sendo exibidas semanalmente e não no formato de maratona, isso se dá pelo sucesso da exibição semanal da série. Game of Thrones não inventou isso, mas veio para mostrar que a fórmula antiga ainda tinha potencial desde que a série fosse boa o suficiente para segurar seu expectador, o que comercialmente falando é mais benéfico que as maratonas.
A série também deu continuidade ao trabalho de The Sopranos e Breaking Bad, provando que é possível trazer histórias complexas para televisão ou streaming. Mas talvez o maior legado de Game of Thrones seja como mudou o status dos artistas que trabalham para a TV. Para roteiristas e atores, trabalhar com televisão deixou de ser sinônimo de fim de carreira ou um início mal visto, mas uma posição desejada e muitas vezes mais interessante que o cinema.
Se hoje vemos orçamentos altos na TV, como em séries como House of the Dragon e The Last of Us, é porque GOT fez isso e entregou ótimos resultados. E ainda que ela não seja a primeira série a movimentar fãs intensamente, tivemos The Sopranos e Lost antes, uma das maiores contribuições dela foi mostrar que uma produção para TV não precisa ser sinônimo de baixa qualidade ou orçamento limitado.
E sim, nem toda produção vai chegar ao mesmo nível dela, mas Game of Thrones provou que é possível, e deixa a dúvida: qual será a próxima série a mudar tudo?
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