Resenha: Em Algum Lugar nas Estrelas


Em Algum Lugar nas Estrelas (Clare Vanderpool) é um romance extraordinário e cativante sobre a arte desafiadora de crescer em um mundo que raramente parece satisfeito com a nossa presença e receptivo à nossas peculiaridades. Pelo menos é assim que a vida apresenta-se à Jack Baker. Sua mãe faleceu e seu pai... bem, seu pai jamais demonstrou preocupar-se o suficiente com o filho. Jack é então conduzido a um internato no Maine. O colégio militar, o oceano que ele nunca havia visto, a indiferença dos demais alunos, tudo à sua volta faz Jack apequenar-se. Isto até conhecer o enigmático Early Auden.

Ganhei este livro de alguém que mora em outra cidade. Entretanto, quando olho para o céu e miro as estrelas, me recordo que é exatamente o mesmo céu que ela pode ver, então sinto-me mais próxima.

Iniciei a leitura sem a mínima ideia do que se tratava, o que às vezes rendeu-me surpresas agradáveis. Descobri uma história encantadora e emocionante, mergulhando na construção da amizade entre dois adolescentes feridos, marcados por perdas significativas e uma importante reconciliação com a vida. A história se desenlaça nos Estados Unidos, no ano de 1945, em meio à conclusão da Segunda Guerra Mundial, e é narrado em primeira pessoa por Jackie Baker, um garoto de apenas treze anos, que perdeu a mãe e cujo pai, capitão da Marinha norte-americana, envia-o do Kansas a um colégio interno no Maine.

Em sua nova escola, Jack tem uma adaptação consideravelmente rápida, embora por vontade própria, escolha viver em meio às sombras, com suas estimadas revistas da National Geographic. Neste novo mundo, Jack encontra-se entre muitos garotos, todavia, constrói uma amizade verdadeira justamente com o mais estranho deles, Early Auden, um garoto negligenciado, de hábitos incomuns e talentos admiráveis. (Early é autista, entretanto, esta nomenclatura não é utilizada devido a época em que se desenvolve o enredo.)

Enquanto busca lidar com a perda da mãe e o abandono do pai, Jackie passa a deixar-se envolver pelas peculiaridades do novo amigo, o qual considera que o número "pi", sim, o 3.14 e suas centenas de decimais, na verdade contam uma história. Inspirado por ela, Early encontra-se determinado a empreender uma jornada, e Jackie o acompanha, apesar de não acreditar nos argumentos fantásticos do amigo, a quem considera completamente alheio à realidade.

Ambos decidem então embrenhar-se pelas florestas do Maine e vivem diversas aventuras inimagináveis, nas quais Jackie embarca em uma viagem de autoconhecimento e descobertas sobre seu novo amigo, identificando assim todas as suas similaridades.

A leitura é deliciosa, e a escrita repleta de maravilhosas figuras de linguagem e muitos momentos engraçados (cortesia do narrador, deveras sarcástico, ainda mais em confronto com Early e sua sinceridade e teimosia bastante característica).

Entremeada à história de Jackie, existe a história de Pi (o personagem criado por Early), que relaciona-se com as situações e pessoas com as quais os garotos encontram em sua delirante viagem. Além do luto, a comunicação interpessoal e a dificuldade de compreender ao próximo são temas importantes do livro.

Vale ressaltar que a edição da Darkside é fascinante (a edição relacionou-se perfeitamente bem com o tom lúdico e sereno da história) com capa dura, ilustrações internas, aberturas de capítulo lindas e uma fitinha de cetim no tom rosa pastel.


Recomendo este livro para quem busca uma história surpreendente e aprecia essa estética poética, sem dúvidas, um dos melhores livros que já li!

Não importa para onde vamos, não importa o quão perdidos estamos ou o quão confusos nos encontramos... buscamos alguém para dividir o trajeto e as angústias, alguém que nos ensine a admirar as estrelas.

Citações favoritas: “Ele pode se perder e me levar junto, mas é melhor do que ficar perdido sozinho”.

“Os números contam histórias e quando chove, é sempre Billie Holiday”.

“Às vezes, é melhor não ver todo o caminho que se estende diante de você. Deixe a vida surpreendê-lo”.

6 comentários :

  1. Excelente! Parabéns, Dai! Como sempre um trabalho irretocável! 👏👏👏

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  2. Como vc mesma disse: que leitura deliciosa, amor. A matéria cativa desde o início. Mesmo que o livro não tenha sido lido, sentimo-nos imergidos nele.

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  3. “Antes de as estrelas terem nomes, antes de os homens saberem como usá-las para traçar seus caminhos, antes de alguém se aventurar além do próprio horizonte, existia um menino que se perguntava o que havia além de tudo aquilo. Ele olhava para as estrelas com admiração e fascínio, mas o fascínio não era consequência só da veneração. Era fruto também de uma pergunta: por quê?" ♥

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  4. Um comentário bem feito, valoriza em muito a obra...e só faz isso quem tem sabedoria....parabéns Dai.

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  5. Fantástico Dailan. Fiquei com vontade de ler.

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  6. Great job, Dai! Parabenas :) muito bom livro <3

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